O Homem que Virou Suco | Crítica

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“Por que você não faz como meu marido, seu Deraldo?  Que levanta seis da manha pra trabalhar e só volta de noite, cansado.”

     O Homem Que Virou Suco (1980) é inteligente e atual. Mesmo com a devida mudança inevitável de três décadas, é fácil encontrarmos mais do que meia dúzia de semelhanças entre a época que se passa o filme e os dias de hoje. Num filme que correu o risco de morrer devido ao pequeno público da estreia, temos aqui a representação do que foi e ainda acontece na vida muitos nordestinos na cidade de São Paulo, podendo incluir nessa lista outras grandes cidades e metrópoles do sul do Brasil.

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     Deraldo (José Dumont) é um nordestino que chegou faz pouco tempo na capital paulista, e tenta ganhar a vida como poeta popular. Após ser confundido com um assassino procurado por matar o patrão de uma empresa multinacional, ele é obrigado a fugir já que ainda não possui documento para identificação. Ao mesmo tempo em que luta por sua inocência, Deraldo precisa encontrar uma forma de ganhar dinheiro através do trabalho para não passar necessidades.

O enredo nos leva aos mais diversos lugares da cidade, cada um com sua importância na magnífica epopeia do protagonista. Deraldo tenta trabalhar descarregando sacos de cebola mas não consegue dar conta do serviço que é muito pesado. Vai então trabalhar numa construção, onde enfrenta a linha dura do supervisor (também nordestino) e acabam se desentendendo. Também vai parar nas obras do METRO, onde os operários são preparados para o trabalho com ameaças humilhantes e xenofóbicas contra qualquer rebeldia.

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     Mesmo sendo um ninguém (civilmente falando) Deraldo renega a todas as situações que lhe sujeitam. A transformação do homem em coisa, um ser que trabalha até a exaustão e carece de tempo para si não combina muito com a sua personalidade. Então é conveniente que ele seja confundido com um bandido e sua ocupação por vocação seja a poesia, que é vista como profissão de vagabundo por muitos na sociedade. A crítica ao sistema industrial caminha junto com a ideia de desumanização da fatia menos favorecida da sociedade. É importante observar também que o personagem em momento algum é corrompido por esse sistema.

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     Vital Farias assina a trilha sonora e os textos poéticos, que estão excelentes e se sobressaem na falta de uma qualidade melhor na filmagem (o filme passou por um processo de restauração e foi relançado em 2007), com poemas sutis e músicas típicas nordestinas, que tem a participação de Dominguinhos. Apesar de algumas soluções clichês no roteiro, elas são bem usadas pelo diretor João Batista de Andrade e os demais elementos da produção dão conta do recado. O Homem Que Virou Suco venceu o tempo, mesmo o ideal sendo ele cair no esquecimento caso os problemas sociais apresentados sejam resolvidos.

O Homem que Virou Suco, 1980

Direção/Roteiro: João Batista de Andrade

Brasil

Nota: 10 – Excelente!

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