Pulp Fiction – Tempo de Violência | Crítica

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   “Zed’s dead, baby. Zed’s dead.”

      Como se chama o quarteirão com queijo na França? E o Big Mac? Em Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994) Quentin Tarantino atingiu o que para muitos foi o ápice de sua carreira. Trabalho posterior a Cães de Aluguel (1992) e ainda na política do bom e barato (não custou mais do que US$10mi para uma arrecadação de mais de US$200mi), o filme foi inspiração para cineastas como Robert Rodrigues e Guy Ritchie, além de dar outra cara aos filmes independentes.

     São três histórias paralelas, mas não cronológicas que se cruzam em determinado momento. Primeiro somos apresentados a Jules Winnfield (Samuel L. Jackson) e Vincent Vega (John Travolta), dois assassinos profissionais a serviço de Marsellus Wallace (Ving Rhames). Na segunda história Vincent Vage leva Mia Wallace (Uma Thurman), esposa do seu chefe, para se divertir a mando do mesmo. Por último, Butch Coolidge (Bruce Willis) é um pugilista em decadência que foi comprado por Marsellus para perder uma luta, mas não cumpriu sua parte no acordo e agora precisa fugir.

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     Tendo como temática as revistas pulp antigas, com histórias absurdas impressas em papel de baixa qualidade, fica difícil elaborar um roteiro lidando com tantas histórias malucas simultaneamente. Não é o que parece para Roger Avary e Tarantino. Tudo corre de maneira coesa e natural, e mesmo o mistério da maleta serve apenas para enriquecer a história. Os diálogos são cativantes, com muito humor e esperteza. Sutilezas que interpretamos como alivio cômico pode significar muito mais do que imaginamos, como a cerveja servida no copo de vidro no cinema de Amsterdã. São coisas que servem para a afirmação desses personagens, que carecem de uma estrutura para definir quem são e o que realmente tem valor para eles. Quem mais se transforma nessa condição é Jules e Butch. O primeiro passa a ter uma percepção nova de sua situação ao escapar da morte quase certa, acreditando se tratar de uma intervenção divina. Já o personagem de Bruce Willis consegue sua redenção ao superar seu inimigo salvando a sua vida, e não usando os mesmos métodos dele (apesar de ter tentado), e é nele que está presente a mensagem mais positiva possível nesse filme. Notem também a total ausência da polícia no filme, exceto pela participação de Zed (Peter Greene), que é na verdade um segurança. Nessa ausência de referencias, é Marsellus quem comanda.

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     O elenco se sai muito bem, desde o resgate de alguns atores com a imagem um tanto abalada como John Travolta, Samuel L. Jackson e Bruce Willis, até a repetição de alguns que trabalharam com Tarantino em Cães de Aluguel como Harvey Keitel, Tim Roth e Steve Buscemi (participação breve). Uma Thurman foi a grande revelação com sua entediada e louca Mia Wallace.

     A trilha sonora possui um coração à parte, dando uma personalidade única ao filme. Musica surf logo nos créditos iniciais, também temos a inesquecível dança de Uma Thurman e John Travolta ao som de Chuck Berry, e “Girl, You’ll Be A Woman Soon” da banda Urge Overkill em contraste com uma overdose.

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     Quem não teve a oportunidade de conferir essa obra prima do cinema recomendo que encontre um tempo livre na agenda, pois trata-se de um trabalho acima de qualquer avaliação (mesmo que seja para não gostar depois). Você pode estar sendo influenciado por esse filme sem mesmo se dar conta, a série Breaking Bad por exemplo usa técnicas muito parecidas de fotografia e diálogos. A lista é imensa. A diversão também.

Nota: 10 – Excelente!

Pulp Fiction, 1994

Direção/Roteiro: Quentin Tarantino e Roger Avary

Estados Unidos

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Cães de Aluguel | Crítica

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“Para Quentin: Não é sobre pênis, é sobre amor.”- Madona

   Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992) é o primeiro filme lançado pelo genial Quentin Tarantino. Com uma narrativa não linear, piadas sujas, diversas referências à cultura popular (marcas que o diretor usaria em toda sua carreira) e um orçamento modesto, somos apresentados a Joe Cabot (Lawrence Tierney), um experiente criminoso que pretende assaltar uma joalheria e para executar seu plano recruta seis criminosos, onde nenhum deles se conhecem e usarão uma cor como codinome: Mr. White (Harvey Keitel), Mr. Blonde (Michael Madsen), Mr. Pink (Steve Buscemi), Mr. Orange (Tim Roth), Mr. Brown (Tarantino) e Mr. Blue (Edward Bunker). As coisas não ocorrem como planejado e logo se deduz que há um traidor entre eles.

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      Enquanto acompanhamos o desenrolar natural da história vamos entendendo mais sobre cada um através de flashbacks. A maior parte do filme se passa num galpão e apenas quatro dos seis tem maior destaque. Mr. White cuida de Mr. Orange, que foi atingido por um tiro. Harvey Keitel representa aqui a figura paterna, que tem seu próprio código de conduta e desenvolve uma relação muito próxima com o personagem de Tim Roth absolvendo- o de qualquer suspeita mesmo quando ferido. Mr. Pink é quem planta a semente de que há um traidor entre eles, é um cara que auto- denomina- se o único profissional entre eles, mas na verdade só pensa em si e muda de ideia quando lhe convém. Mr. Blonde é quem traz a discórdia e ao mesmo tempo a esperança de que o traidor seja identificado, enquanto conhecemos sua face psicopata.

     Quando os problemas surgem é que cada cor começa a se distinguir uma da outra: quebra- se o anonimato, forma- se alianças, entra o desespero e impaciência, a desconfiança paira no ar. O elenco é competentíssimo, Tarantino e seu Mr. Brown já começa defendendo uma teoria sobre “Like A Virgin” da Madonna que se eternizou na mente suja dos fãs do diretor. Chama atenção o momento que Mr. Pink pergunta a Mr. White se ele matou apenas policiais ou “pessoas de verdade”, uma forte visão de falta de representatividade social com quem defende a lei. Se algum policial tem do que reclamar certamente é Marvin Nash (Kirk Baltz), que conhece a mais intima persona de Mr. Blonde na clássica cena de tortura ao som de “Stuck In the Middle With You” da banda Stealers Wheel.

     O único escorregão do roteiro fica por conta dos personagens Joe Cabot e seu filho Eddie Cabot. Não parece sensato que alguém com a sua experiência visitasse o local de encontro dos assaltantes após a descoberta do traidor (já que a polícia poderia aparecer a qualquer momento no local), e o pior nem avisa seu filho. Quanto ao “Nice Guy” Eddie Cabot, não parece verossímil ele ficar tão reticente à existência de um traidor entre eles frente a evidências muito fortes… talvez ele esteja apenas preocupado com os diamantes e ignore o resto, mas fica a dúvida. Um pouco mais de tempo para Mr. Blue também seria bem vindo.

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     Esse é um dos maiores exemplos no cinema moderno de que qualidade não vem apenas de altos orçamentos, roteiros mirabolantes, destruições pirotécnicas, elencos fartos, efeitos especiais e apelos visuais em geral. Não que o filme sofra falta desses recursos, muito pelo contrário, os seis assaltantes usam roupas elegantes e esbanjam charme até quando são requisitados às mais suja das situações (cabelo penteado em meio a poças de sangue ou mutilação sem sujar a camisa, por exemplo). São profissionais. Ou deveriam ser.

Nota: 10 – Excelente!

Reservoir Dogs, 1992

Direção/Roteiro: Quentin Tarantino e Roger Avary

Estados Unidos

Espero que tenham gostado!

madsenrd

 

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