Fome | Crítica

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     Fome (Hunger, 2008) não é um filme fácil de ser acompanhado e também não é para qualquer um. Desde as cenas cruas e cruéis e violência até as longas tomadas dos seus noventa minutos de duração, exige uma paciência maior do expectador, e também boa vontade com o fato histórico inspirador do roteiro, que até fica explicado, mas com o cuidado de não soar professoral no seu tom, que busca mais a condição do ser humano.

     Após ter sido retirado seu status de presos políticos, o grupo paramilitar católico IRA (Irish Republican Army) e seus integrantes passam a serem considerados prisioneiros comuns no temível Maze Prision em Belfast, Irlanda do Norte no fim da década de 70. O acontecimento gera proporções fortes, e através do líder Bobby Sands (Michael Fassbender) o grupo promove os protestos do cobertor, que consistem em não usar roupas de criminosos, nada de banho, nem barba e cabelos cortados. A greve de fome que inspira o nome do filme é a derradeira manifestação em vida de Bobby Sands, que ali lutou para que, além dos direitos políticos, seus iguais fossem tratados como seres humanos.

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     Steve McQueen estreou muito bem com esse filme, usando a guerra civil irlandesa como pano de fundo para mostrar alguns extremos da condição humana. Apesar de um trabalho de estreia, o diretor pisa em local conhecido ao retratar o que é feito com as fezes dos prisioneiros, assim como a urina e os restos de comida, já que o diretor também é artista plástico. E vemos a divulgação do seu trabalho por todo canto, num cenário de verdadeiro caos e violência que pode chocar os mais suscetíveis.

Michael Fassbender é a grande estrela, esse filme abriu portas para o ator em Hollywood, e aqui ele se doa totalmente. Dos espancamentos à sua aparência esquelética, ele retrata Sands de maneira firme e obstinada, sem apelar para discursos motivacionais ou outros clichês possíveis. Alias, o filme possui poucos diálogos, é dito precisamente o que é necessário para o entendimento, com exceção à conversa de Bobby com o padre Dominic Moran (Liam Cunningham), onde as palavras correm tão rapidamente que fica difícil de acompanhar. Em nível de elenco também podemos elogiar Stuart Graham que interpreta o policial Ray Lohan e tem uma marcante cena de abertura (repare em seus métodos domestico ortodoxos tipicamente policiais em comparação com sua mão machucada devido às sessões de tortura).

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     Podemos concluir que Fome se trata de uma experiência difícil, mas prazerosa e de um talento grande por parte dos envolvidos. O diretor nos mostra os fatos sem tomar partido, mas retratando muito bem como foi conduzida a situação naquele cenário especificamente, que juntamente com a atitude de Bobby Sands, é o que interessa realmente nesse trabalho.

Nota: 8 – Muito Bom!

Hunger, 2008

Direção/Roteiro: Steve McQueen e Enda Walsh

Reino Unido

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12 Anos de Escravidão | Crítica

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     Na cerimônia do Oscar 2014, a apresentadora Ellen DeGeneres brincou dizendo que se 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave, 2013) não levasse o prêmio, os eleitores ali presentes seriam racistas. Isso pode passar a impressão de que foi uma forma de pressão para que o filme levasse a estatueta, que de fato houve, pelo forte tema abordado e com tantas praticas racistas que ainda persistem. A dúvida fica por conta dos méritos do reconhecimento: É um trabalho superestimado que “chegou lá” por exagerada influência externa? Ou é uma obra prima do cinema produzida e estrelada por grandes ícones de Hollywood? Guarde essa pergunta.

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     Steve McQueen (Fome, Shame) assina a direção no filme que conta a história real de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um homem negro livre do norte de Nova York que é sequestrado e vendido como escravo. Na primeira fazenda aonde foi parar, seu dono William Ford (Benedict Cumberbatch) se vê obrigado a repassa-lo para outro local após um sério incidente. Solomon passa então a ser propriedade de Edwin Epps (Michael Fassbender), um cruel fazendeiro, que nutre desejos por Patsey (Lupita Nyong’o), sua mais eficiente escrava na colheita de algodão.

     Adaptado do livro homônimo escrito pelo próprio Solomon Northup, 12 Anos de Escravidão acerta em não apostar no melodrama e retrata bem a situação dos homens livres que foram sequestrados para serem comercializados como escravos, prática muito usada nos Estados Unidos por volta de 1840. Mas peca num dos pontos vitais para o que julgo agregar qualidade ao material: Imparcialidade.

     Temos aqui a caracterização do homem branco demonizado, assim como as mulheres quando reagiam de forma cruel ao fato de seus maridos senhores escravistas usarem negras como instrumento sexual. Isso fica muito mais acentuado quando o único branco que vale o prato que come é retratado por um grande astro como Brad Pitt, um dos produtores, dando um toque um tanto forçado à sua participação, e o fato do seu nome estar até na sinopse oficial corrobora essa ideia já que sua participação é curtíssima. Parece inverossímil que nos doze anos que passou como escravo, Solomon não tenha se deparado com negros de caráter ruim. O mais próximo disso é a esposa do fazendeiro vizinho (Alfre Woodard), mas que tem suas ações justificadas. Nesse sentido, até Django Livre (2012) que é um filme para diversão se faz mais justo. A passagem do tempo não foi bem ajustada, o que também prejudica na experiência final.

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     O desempenho do núcleo principal é satisfatório, Michael Fassbender está surtado como Epps, assim como Chiwetel Ejiofor justifica sua indicação como melhor ator, junto com Lupita e sua Patsey. Os três estão muito bem entrosados e protagonizam as melhores cenas do longa, como a do enforcamento, onde um ser humano tenta sobreviver na ponta do pés, enquanto as pessoas ao fundo continuam seus afazeres normalmente. A violência do filme não soa gratuita pois as coisas se passaram daquela forma, então é razoável que não tenha amenidades, então prepare-se para ver como realmente pode ficar o corpo de uma pessoa chicoteada. Chorar durante o filme não é condenável também. Quem abusa disso é Eliza (Adepero Oduye), chora o tempo todo mas tem uma atuação teatral demais que pouco convence em seu derradeiro momento.

     A trilha sonora é simples e cativante, com cantigas contendo o ritmos básicos de estilos que eclodiram posteriormente. O som que acompanha o suspense da condição de Solomon no início destoa um pouco, parece que a intenção é nos assustar com a chegada iminente de um vilão de filme de ação… nada que prejudique nesse caso.

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     Retornando à pergunta inicial, 12 Anos de Escravidão foi apenas o melhor entre as opções da academia na época. Isso não significa grande coisa, mesmo assim o trabalho tira proveito pelo talento do elenco além da bela fotografia e música, enfim, quesitos técnicos que mostram evolução do diretor Steve McQueen.

Nota: 5 – Regular

12 Years A Slave

Direção/Roteiro: Steve McQueen e John Ridley

Estados Unidos

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