Junho – O Mês Que Abalou o Brasil | Crítica

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V de Vinagre

   Chego no caixa do cinema no Shopping Bourbon de São Paulo e peço ingresso para assistir Junho, a atendente nem sequer sabe que o filme está em cartaz e olha pra mim como se eu fosse louco (deve ter ficado lelé da cuca de tanto vender X-Men e Malévola). Após a confirmação de que mantenho minhas faculdades mentais, eu e meu amigo Felipe entramos na sala com um “incrível” público de no máximo oito pessoas. Um retrato do gigante que voltou a dormir? Ou ele nunca dormiu?

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     Junho – O Mês Que Abalou o Brasil (2014) é um documentário que tenta retratar o que diabos se passou nessa época no ano de 2013, pré e durante a Copa das Confederações organizada pela FIFA no país. Apesar do evento esportivo, que causou e causa revolta pelo maltrato do dinheiro público, o fato que marcou o início dos protestos foi o aumento na tarifa de ônibus na cidade de São Paulo, onde o MPL (Movimento Passe Livre) reivindicava a revogação desse aumento. Outro fato marcante foi a repressão e despreparo policial, gravada de diversos ângulos através das câmeras nas ruas.

     O documentário retrata muito bem o que ocorreu, a narrativa organiza o período de acordo com os dias, como o histórico dia 17 de junho, onde dezenas de cidades e milhões de brasileiros foram às ruas, numa indignação cheia de misturas: preço da passagem, saúde e educação precária, corrupção, “[adicione aqui a sua indignação]”. É abordada essa disparidade de opiniões e causas, inclusive o choque desses pontos de vista.

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     Produzido pela Folha, estava curioso se eles (da imprensa) iriam assumir que foram a favor dos abusos por parte dos policiais, inclusive cobrando mais rigor em suas ações insinuando uma certa frouxidão. Eles assumiram o erro, mas com um pouco de maquiagem numa compreensível puxada de sardinha: é fácil citar Arnaldo Jabor e não Sérgio Dávila que escreveu a coluna “Retomar a Paulista”, discordo também de que a imprensa teve um papel fundamental na conquista da revogação do aumento na tarifa de ônibus. Ao contrário, o movimento deu um tapa na cara da imprensa como um todo, que quis marginalizar de forma generalizada as manifestações, e depois voltou atrás. Faltou uma compreensão maior a respeito das pessoas que gritavam “sem partido” frente ao oportunismo do PT em querer tomar para si uma vitória da população não politizada. A triste realidade é que o brasileiro é ignorante demais para ser fascista.

     Bem lembrado alguns bordões da época como “amanhã vai ser maior”, “sem violência” e também os diversos trocadilhos sobre o tal “Padrão FIFA”, “V de Vinagre”. Muitas piadas viralizaram nas redes sócias, que teve papel fundamental como meio de comunicação para os participantes através de gravações feitas por celular, imagens e até agendamento de novos protestos. Por fim somos lembrados que na periferia as balas não são de borracha, onde a violência por parte das autoridades é muito maior, e o descaso também. O paralelo feito com acontecimentos do futebol com a situação de muitos setores públicos em decadência é engraçado e triste ao mesmo tempo.

     Pode até ser um pouco cedo para tirar conclusões mais definitivas sobre o ocorrido, mas com suas devidas ressalvas o filme cumpre dignamente seu papel, que deveria a partir do minuto de lançamento fazer parte do programa escolar da nossa educação, se eu fosse professor meus alunos com certeza iriam conhecer esse filme. Parece mesmo ser uma história com começo, meio e fim… cabe a nós criarmos uma nova.

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Nota: 10 – Excelente!

Junho – O Mês Que Abalou o Brasil, 2014

Direção/Roteiro: João Wainer

Brasil

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