Rede de Intrigas | Crítica

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“Essas coisas que acha que são piegas, minha geração chama simplesmente de decência humana”

     Quando o cidadão chega em casa entre as 17 e 19hs após uma longa e cansativa jornada de trabalho, o mais comum é ligar a TV após o banho e esperar pelo jantar. Qual programa ele vai ver? O que mais lhe chamar atenção, obviamente. Rede de Intrigas (Network, 1976) trata exatamente dessa busca incessante pela audiência e seus bastidores na forma de sátira, apontando o dedo na cara das gerações alienadas pela mídia.

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     Howard Beale (Peter Finch) é apresentador do noticiário da rede UBS, e tem sua demissão anunciada devido à necessidade de reformulação no jornal devido aos baixos índices na audiência. Enlouquecido e sem saber o que fazer após perder o emprego que representa tudo na sua vida, Howard promete se matar ao vivo no seu derradeiro programa do dia seguinte. Essa atitude atrai a curiosidade do telespectador e garante a continuidade dele no noticiário, que logo se torna num show de entretenimento para quem assiste e tem na figura do ancora uma espécie de profeta louco.

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     Qualquer semelhança com programas como Cidade Alerta ou Brasil Urgente não é mera coincidência, o tema do filme é muito atual e tende a ser por muitos anos. A reação do protagonista foi inspirada no caso da jornalista Christine Chubbuck que se suicidou ao vivo na TV quando estava sendo demitida por motivos semelhantes. O noticiário se torna um show de entretenimento em prol dos pontos audiência, tendência que se prolifera a todos os programas e para conseguir esse objetivo vale até desrespeitar as leis e o bom senso.

     Os diálogos são muito técnicos e isso ajuda a destacar os desabafos de Howard. O Oscar póstumo de Peter Finch se justifica nesse personagem surtado que passou por muitas transformações, mas podemos destacar positivamente outros como Frank Hackett (Robert Durval) e Diana Christensen (Faye Dunaway) que tem o mesmo objetivo prático mas com fins diferentes, ambos querem aumentar a audiência mas enquanto o primeiro precisa mostrar lucros para os acionistas, a outra quer reconhecimento e sucesso. Diana chama atenção pelo que ela representa: a geração dominada pela mídia, viciada no trabalho (tudo q ela quer são muitos pontos de audiência), péssima nos relacionamentos e no sexo, fala sobre o trabalho até na hora de transar! Não é capaz de se apaixonar por ninguém sem estar afetada por esse domínio. Isso torna seu par romântico superficial demais. Max Schumacher (Wiliam Holden), charmoso e eloquente no seu fim de meia idade, é o homem que se salva desse processo, que consegue conviver com isso sem deixar de ser humano, inclusive com seus defeitos e manias como abandonar sua família para viver com outra mulher. O difícil é acreditar que ele seja capaz de amar uma pessoa tão intragável como Diana. Faltou um pouco mais da amizade entre Howard e Max na segunda metade do filme.

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     O diretor Sidney Lumet tinha facilidade em trabalhar temas que levam o ser humano a olhar para si e refletir a respeito do que vem fazendo com a sua limitada permanência no planeta, assim como abordava bem os limites que uma pessoa pode chegar para conquistar seu objetivo. Foi assim desde seu debute em 12 Homens e Uma Sentença (1958). Em Rede de Intrigas ele expande o alcance dessa mensagem ao mesmo tempo que apresenta outras facetas humanas, como o megalomaníaco dono da grande empresa Arthur Jensen (Ned Beatty), que não enxerga mais nações ou pessoas, apenas IBM, At & T etc. Repare na expressão fascinada de Howard quando Jensen expõe seus pensamentos, é o poder financeiro vencendo qualquer reação humana a esse processo de emburrecimento. O Deus fast food é adorado a muito tempo, e a cada dia consegue novos adeptos.

Nota: 8 – Muito Bom!

Network, 1976

Direção/Roteiro: Sidney Lumet e Paddy Chayefsky

Estados Unidos

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